Concebida durante o isolamento social de 2021, “A entrega” representa uma figura solitária que atravessa a noite chuvosa: um entregador de comida, mascarado, em uma rua vazia onde a cidade vive o isolamento social.

Através da obra, Erikson evoca uma pergunta que se impôs naquele momento histórico: isolamento social para quem? A poética não busca apenas representar um trabalhador essencial, mas devolvê-lo à cena com protagonismo, e não como pano de fundo.

O título da obra carrega ambiguidade. O entregador entrega a comida, mas entrega também o próprio corpo ao acaso, à rua, ao risco sanitário naquele momento. Entrega-se a um sistema que, ao mesmo tempo em que dele depende, o mantém em condição precária. Há nessa entrega um gesto involuntário de sacrifício (não heróico, mas imposto). Uma entrega sem escolha e um lembrete inconveniente: nem todos tiveram o privilégio de parar.